O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é bem conhecido como uma doença típica da infância. A criança apresenta falta de persistência nas atividades que envolvem concentração, não completa as tarefas, tem atividade excessiva e desorganizada. Pode ser também impulsiva e imprudente, propensa a acidentes e frequentemente apresenta problemas disciplinares por infração não premeditada de regras. Até há poucos anos acreditava-se que o TDAH melhorava ou desaparecia à medida que a criança se tornava adulta. Sabe-se, atualmente, no entanto, que esse transtorno persiste em cerca de 50% dos adultos que tiveram TDAH na infância (diagnosticados ou não). A prevalência do TDAH na infância é de cerca de 5%; no adulto é de cerca de 2,5% da população.

Em geral o transtorno é mais leve no adulto do que na criança, mesmo assim, pode prejudicar bastante o cotidiano da pessoa, uma vez que a demanda social e profissional do adulto é muito maior do que a da criança.

A primeira condição para se fazer o diagnóstico de TDAH no adulto é constatar que a pessoa teve essa doença na infância. A doença não se inicia na idade adulta, trata-se da persistência no adulto da doença da criança.

Os sintomas principais do TDAH no adulto são:

1. Déficit de atenção: A pessoa distrai-se com facilidade, comete erros por distração no trabalho ou nas atividades que exigem concentração, é desorganizada, “avoada”, esquece compromissos assumidos, perde seus objetos ou não lembra onde os deixou, não presta atenção quando alguém está falando consigo, “sonha acordado”

2. Hiperatividade motora: Agitação ou inquietação constantes, a pessoa não consegue ficar muito tempo parada, está sempre “a todo vapor”, se está sentado fica mexendo os dedos, os pés, não consegue assistir a TV ou a um filme sem se levantar. Há uma movimentação excessiva e desnecessária para o contexto. Por vezes essa hiperatividade se manifesta apenas mentalmente, a pessoa não consegue “parar de pensar”, especialmente na hora de dormir e isso acaba prejudicando seu sono.

3. Impulsividade: Agir sem pensar, decisões são tomadas sem planejar, rompem ou iniciam relacionamentos/casamentos abruptamente, deixam empregos subitamente.

Outros sintomas característicos são:

4. Labilidade afetiva: Oscilações entre tristeza e euforia, “altos e baixos”, mudanças bruscas de humor.

5. Temperamento explosivo: “Pavio curto”, brigas e discussões por motivos fúteis, perda de controle.

6. Hiper-reatividade emocional: “Fazer tempestade em copo d’água”, dificuldade de lidar com situações de pressão, de estresse, facilmente fica estressado.

7. Desorganização: Mesas desarrumadas no trabalho, perda de documentos importantes, relatórios malfeitos, dificuldade de se organizar no tempo, estimativa inadequada do tempo necessário para uma determinada tarefa ou atividade.

As manifestações acima descritas devem ter duração de pelo menos seis meses e ser suficientemente graves para prejudicar a vida cotidiana, profissional ou familiar.

Além do comprometimento em diferentes áreas (social, profissional, familiar), muito frequentemente essas pessoas fazem também abuso de drogas (álcool, cocaína etc.) e podem apresentar outros transtornos mentais concomitantemente, por exemplo: depressão, ansiedade, distúrbios de personalidade.

Algumas escalas podem ser utilizadas para triagem de um possível TDAH, entre elas a ASRS-5 (Escala de Autoavaliação para Triagem do TDAH em Adultos segundo o DSM-5; publicada por Ustun, B., Adler, L.A., Rudin, C., Faraone, S.V., Spencer, T.J., Berglund, P., Gruber, M.J., Kessler, R.C. (2017). The World Health Organization Adult Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder Self-Report Screening Scale for DSM-5. JAMA Psychiatry, 74(5), 520-526.).

Marque a opção que melhor descreve como você se sentiu e se comportou nos últimos SEIS meses:

Se a soma de pontos for acima de 14 é considerada a suspeita de TDAH adulto.

O tratamento é feito principalmente com medicamentos chamados psicoestimulantes, por exemplo: Metilfenidato ou Lisdexanfetamina, por vezes associados a antidepressivos e psicoterapia. A psicoterapia pode ser de base cognitivo-comportamental, buscando auxiliar a pessoa na sua organização cotidiana e oferecendo estratégias para que a pessoa gerencie melhor sua vida. Muitas pessoas com TDAH sentem-se frustradas pelos fracassos sucessivos na vida, por vezes apresentam baixa autoestima, de modo que frequentemente a abordagem psicoterápica (de base psicodinâmica) deve também ajudá-los a lidar com essas questões e com seus conflitos internos.